top of page

Sem fins lucrativos, projeto 'Pastoral de Rua' visa os mais necessitados

  • Foto do escritor: Anhembi Digital
    Anhembi Digital
  • 28 de nov. de 2018
  • 5 min de leitura


Criado pela Paróquia Nossa Senhora do Paraíso, os voluntários do projeto se reúnem para ajudar moradores de rua


Por Beatriz Garcia, Henrique Vigliotti, Laura Imene e Paloma Ribeiro



No Brasil em 2017, estudo realizado pelo Ipea (Instituto de pesquisa econômica aplicada) apresentou 820 mil ONGs existentes. Destas, 709 mil (86%) são associações civis sem fins lucrativos,  99 mil (12%) são organizações religiosas e 12 mil (2%) são fundações privadas.


Voluntário entregando roupas novas a um morador de rua (Foto: Laura Imene)

Apesar da existência de tantos projetos e ONGs, ainda percebemos o déficit de voluntários em tais projetos tão nobres. No dia a dia, vemos pessoas na correria, sempre vidradas em seus celulares, esquecendo de olhar ao redor, e para quem mais precisa de ajuda, como os moradores de rua, que muitas vezes são malvistos pela sociedade, que esquece que são seres humanos em situações muito precárias. A maioria dos projetos visam ajudar pessoas “invisíveis”, dando todo o auxílio que precisam.



Moradores de rua recebem marmitas feitas pelo projeto (Foto: Laura Imene)

Além desta realidade, vale lembrar que em um país onde quase nada é feito sem receber algo em troca, raramente conhecemos pessoas que são voluntárias apenas por ver o sorriso no rosto do próximo, dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgados em 2017 revelam que, em todo o Brasil, 101 mil pessoas vivem nas ruas. O número cresceu nos dois últimos anos, em virtude do aumento de desempregados no país: cerca de 13,5 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho no segundo semestre deste ano, indica levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Por conta dessa realidade, a equipe do Jornal Digital Anhembi Morumbi visitou a Paróquia Nossa Senhora do Paraíso localizada em Santo André, que conta com o projeto A Pastoral da Rua, ação totalmente voluntária. Este projeto surgiu há 14 anos, com um simples grupo de amigos que tinha vontade de fazer algo pelas pessoas que vivem na rua. Atualmente, os voluntários do projeto reúnem-se a cada 15 dias na cozinha da Capela São Francisco de Assis (pertence a paróquia) para preparação e distribuição de lanches, que intercalam entre: carne moída, mortadela e salsicha, conforme conseguem as doações, além de leite quente e suco pelas ruas de Santo André, ajudando moradores de rua com talvez a única refeição do dia deles. Depois da preparação, o grupo se reúne em frente a Paróquia para esperarem os demais integrantes e poderem realizar uma oração pela noite e partilha com os irmãos. Eles se dividem em pequenos grupos e separados carros, para que possam acolher o maior número de moradores possível.

Além da distribuição dos lanches, A Pastoral tem como foco a retirada desses moradores da rua, oferecendo a eles abrigo na chamada Carita Diocesana de Santo André (Casa de ASSIS) Sede localizada na Vila Pires exala o carisma de São Francisco de Assis para a população de rua que necessita de alimento, espiritualidade e moradia. Atualmente, a residência comporta 45 pessoas. Acolhidos e acolhidas têm direito às refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar) e participam de momentos espirituais, como a devoção mariana, por meio da reza de quatro terços. Despidos de qualquer vaidade, com suas vestes humildes, pés descalços, munidos de terços, crucifixo empunhado nas mãos e sem preguiça para caminhar pelas vias da cidade, dialogaram com migrantes, haitianos, desempregados, travestis, jovens, crianças, mulheres grávidas e dependentes químicos, cujo objetivo é sempre dar o pontapé inicial na transformação da vida dessas pessoas em situação de vulnerabilidade social.


Conversamos com alguns dos voluntários do projeto, como a jovem Celina Silva, de 25 anos, voluntária há 3 anos e meio do A Pastoral. Ela disse que o projeto mudou quem ela era como pessoa, fazendo com que olhasse para as coisas dando mais valor à vida e aos privilégios que possui. Voluntário há 2 anos, Carlos Eduardo Imene, de 50 anos, conta que se identifica com o serviço e na solidariedade com as pessoas de rua, que mais precisam de ajuda. Alguns voluntários não conseguem participar dos projetos pessoalmente com as entregas e a preparação, como Daniela Almeida, dona de uma padaria em Santo André, que quinzenalmente doa cerca de 300 pães para A Pastoral realizar as entregas.



Voluntários fazem roda de oração (Foto: Laura Imene)

Conheça ,aos sobre os voluntários do projeto para saber o efeito que um trabalho voluntário pode fazer na vida de alguém.


  • Carlos Eduardo Imene, 50 anos (2 anos como voluntário)


O que a Pastoral mudou na sua vida? 

A Pastoral realizou grandes transformações, mudou meu modo de pensar, de olhar o outro e me fez agradecer pelas simples coisas que a vida pode me proporcionar. Minha vida teve um impacto muito grande depois que comecei a frequentar a pastoral, e isso me ajudou até no meu cotidiano e na forma como eu tratava o outro.


O que mais chamou a sua atenção quando se deparou com a realidade das ruas?

O descaso com os moradores de rua, milhares de pessoas têm a oportunidade de ajudar e agem como se não pudessem. Comecei a pensar na minha vida e no tempo que eu podia dedicar aquele serviço,


Sabemos que estar a serviço dos mais necessitados não é uma tarefa fácil, o que te motiva a não desistir?

Estar a serviço do outro me motiva a não desistir. Saber que a necessidade dele é prioridade, enxergar neles você mesmo e poder oferecer a eles com um simples gesto uma nova oportunidade de vida. Sabemos que a realidade das ruas é difícil e tirar os moradores de lá, não é um processo rápido, mas nos empenhamos para que eles enxerguem novas oportunidades longe da rua, pois muitos estão desmotivados por estarem lá há muitos anos e serem esquecidos até pela própria família.


Você acha que a mídia tem um papel importante na divulgação de trabalhos como o da Pastoral?

Sim, com certeza! Trabalhos voluntários devem ser cada vez mais expandidos, para gerarem mais impacto na vida das pessoas e elas comecem enxergar a importância da existência deles.


Você acha que trabalhos voluntários são poucos noticiados?

Não, geralmente não são. Até porque eles não têm fins lucrativos, então isso não os interessa. 



Patoral com o morador de rua: Alcides Foto: Laura Imene


  • Celina Almeida, 25 anos (3 anos e meio como voluntária)


O que fez você optar por servir a esse projeto?

Me chamou atenção o modo como os pastoreios se importavam com a causa de quem estava na rua e eu vi que podia ajudar, então logo procurei me informar para que minha ajuda chegasse até eles.


O que a Pastoral mudou na sua vida? 

Não sou a mesma pessoa de 3 anos atrás, meu modo de ver a vida mudou. Quando se depara com a realidade da rua, do que as pessoas passam, você dá valor ao que tem.

 

O que mais chamou a sua atenção quando se deparou com a realidade das ruas?

A violência, o modo como aqueles que estão nas ruas são tratados é algo impressionante.


Sabemos que estar a serviço dos mais necessitados não é uma tarefa fácil, o que te motiva a não desistir?

Quando você se encontra nesse serviço, não quer mais largar, porque entende que os moradores de rua precisam de você, precisam da sua ajuda. 


Você acha que a mídia tem um papel importante na divulgação de trabalhos como o da pastoral?

Com certeza. Teríamos um alcance muito maior! 


Você acha que trabalhos voluntários são poucos noticiados?

Sim, a mídia não tem interesse porque não gera lucro. 


  • Daniela Silva, 43 anos (doadora de pães)


Daniela é dona da padaria que fornece os pães de graça a Pastoral, para que os voluntários possam distribuir aos moradores de rua.


Por que tomou essa decisão de doar os pães ao invés de vendê-los?

Porque achei o trabalho que eles fazem incrível e queria de alguma forma poder ajudar, já que não posso ir com eles distribuir os lanches. 

Então resolvi doar cerca de 300 pães a cada 15 dias para que eles pudessem distribuir, já que o trabalho deles principal é chegar aos que estão esquecidos.



Comments


bottom of page