A REALIDADE DO FUTEBOL FEMININO NO BRASIL
- Anhembi Digital
- 28 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2018
Meninas contam quais são as dificuldades e como enfrentam os desafios para se tornarem jogadoras profissionais
Por: Leonardo Geber, Fernando Mafrini, João V. Costa, Marcus Vinícius, Gabriel Mendes, Gusthavo Verducci
Existem muitas meninas que sonham em ser jogadoras de futebol, assim como a Amanda. “Meu maior sonho é ser convocada para a seleção brasileira e me tornar um dia jogadora profissional”, declara a adolescente. A grande maioria delas desde a infância passam a ter contato com a bola e se apaixonam, desejando alcançar uma carreira profissional.
“Eu acho que toda e qualquer menina que começa a jogar bola, está numa quadra, no meio dos meninos”, declara Luana Oliveira, de anos 31 anos, jogadora do Aliança Futsal.
“Eu cresci com meu primo que era um pouco mais velho e a primeira escolha dele era sempre jogar bola, então sempre foi isso”, conta Heloisa Lemos de 15 anos.
Não é necessária muita coisa para essas meninas se divertirem. Uma quadra (ou campo) e uma bola já a satisfazem. No entanto, sabemos que até elas alcançarem uma carreira profissional há um longo caminho a ser trilhado.
Até 1979, no Brasil, mulher jogar futebol era considerado crime. Isso é destacado pela guia do Museu do Futebol, na Zona Oeste de São Paulo, que reúne alguns registros sobre o esporte. A maioria do que está exposto é proveniente do exterior, já que aqui as mulheres jogavam escondido.
No entanto, ainda hoje, mulheres encontram muita dificuldade para entrar no mundo da bola. “Tinham os times e a gente jogava, era competitivo também, e do nada, uma amiga minha foi jogar em Santa Catarina, e a partir dela, descobriram a gente, foram umas 6 meninas da minha cidade pra Santa Catarina jogar”, explica Luana.
“A disponibilidade que tem de clube feminino ainda é pequena, mesmo que tenha um clube feminino ou outro, eles ainda são distantes e nem sempre tem como eu ir ou outras meninas irem”, conta Heloisa.
“Eu jogo desde criança, então, como eu tenho 31 anos, para cá a gente não tinha muitos espaços onde podia jogar, então eu jogava nos campinhos, junto com meninos e outras colegas meninas. Eu tinha vontade de jogar em times, mas naquela época não tinha muitos times de futsal feminino”, declara Diana Borges, de 31 anos jogadora do Art Girls, time do futebol amador feminino.
Muitas das meninas sofrem preconceito por gostarem de jogar futebol, em alguns casos por parte de meninos desconhecidos, em outros, por parte de sua própria família. “La na minha casa era assim, eu tinha um monte de primo menino, prima menina, as meninas sempre brincando de boneca e eu sempre no meio dos meninos, meu pai ficava doido quando me via no meio dos meninos”, conta Luana.
“Quando a gente ia jogar com os meninos tinha aquele preconceito, ‘a, não vamos escolher as meninas para jogar’, mas isso não é verdade a gente joga sim, aprendeu a jogar tanto é que eu jogo razoavelmente bem”, explica Diana.
“Acho que quando eu comecei, não era nem pela minha família e pelos meus amigos, é mais quando eu estou em um lugar e vão tirar time e tem eu e alguns meninos, eu provavelmente vou ser a última a ser escolhida por que eles não sabem que eu jogo bola ou que eu jogo a altura deles”, conta Heloisa.
Outra questão extremamente complicada que envolve o futebol feminino, é a questão financeira. Devido à baixa visibilidade, os patrocínios são escassos, e consequentemente meninas tão talentosas quanto alguns meninos, recebem salários bem menores que os deles, não podendo fazer do futebol sua profissão por não render o lucro necessário.
“Mais apoio né porque as mulheres jogam bem, é que existe um certopreconceito e acontece que tem influência sempre para os homens, para as mulheres é muito pouco então desde campeonatos pequenos como os que tem aqui, vai ter muito mais jogos masculinos do que femininos”, declara Diana.
“O governo hoje tem verba que vem para o esporte, para a saúde e várias outras coisas e não é atoa o que saiu de roubalheira por aí, é o dinheiro desviado que seria para estar ajudando, para estar melhorando um pouquinho o patamar, o nível e esse dinheiro não chega”, explica Luana.
Mesmo diante de situações tão complicadas, ainda há esperança, pois existem meninas que não desistem de lutar pelos seus sonhos, e inspiração não é o que falta para isso. (Declaração mina falando da Marta)
Marta Vieira da Silva nasceu em Dois Riachos, interior de Alagoas, no dia 19 de Fevereiro de 1986. Quando Marta tinha apenas um ano de idade, viu seu pai abandonar toda a família, ela, seus três irmãos e sua mãe. Começou a jogar pelo Centro Sportivo Algoano (CSA) com 13 anos, passou por vários clubes do Brasil e do mundo. Hoje Marta é considerada uma referência feminina no futebol, recebeu neste ano o sexto prêmio de melhor jogadora do mundo, e com isso possui mais bolas de ouro que Messi e CR7. É a maior artilheira da história das Copas do Mundo Feminina e possui mais gols na Seleção Brasileira que o próprio Pelé.
Além de exemplos incríveis como o da rainha, algumas ainda dão a sorte de encontrarem verdadeiros anjos no caminho.
“Cara, eu acho que isso é gostar, quando você nasce para gostar de alguma coisa, você pode estar ferrado que vai lutar até o fim, meus técnicos e os de qualquer time aqui, eles tiram dinheiro do próprio bolso, tanto ele quanto as meninas, elas ajudam a pagar, porque tem os custos de arbitragem, inscrição de campeonato e tudo mais”, conta Luana
Espero que daqui a alguns anos, graças a exemplos como o de Marta e de homens como o técnico de Luana, tudo que nossas meninas esperam para o futuro feminino no esporte, venha ser concretizado.
“Eu acredito nisso, eu acho que um dia, talvez não no Brasil ou aqui nos países principais, mas já tem muitos países em que o futebol feminino é muito conhecido e que as pessoas idolatram tanto jogadoras femininas quanto masculinos, tem tanta habilidade quanto e ganham um salário não igual mas chega perto, então acho que ainda há esperança”, declara Heloísa.
Assista o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KmpcrjExGIA
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