Migrantes nordestinos em São Paulo: choque de cultura, histórias e tradições
- Anhembi Digital
- 14 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de nov. de 2018
Milhares de migrantes trazem um pouco dos estados mais arretados para as ruas paulistas
Carlos Borges, Isabella Molina, Jhonathan Pereira, Kenia Matos, Larissa Martins, Letícia Denadai
São Paulo é o estado com maior número de migrantes nordestinos no Brasil. Essa migração começou na década de 1940 com a crise cafeeira que se instalou no Nordeste. Segundo Paulo Torres, no livro “Um Nordeste em São Paulo: Trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista”, entre as décadas de 1950 e 1960, 1 milhão de migrantes chegaram à capital paulista representando 60% do crescimento populacional. Porém há muito preconceito com os nordestinos na cidade. Em 1949, uma pesquisa, destacada por Torres, revelou que um em cada três paulistas não considerava a hipótese de matrimônio com “baianos e nortistas”. Será que esse preconceito persiste nos dias de hoje?

O termo “migração” corresponde ao ato de trocar de país, de região, de estado ou até de domicílio. Esse fenômeno pode ser desencadeado por uma série de fatores: religiosos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos e ambientais.
Maria José de Brito, 40, natural de Pesqueira (PE), destaca que o principal motivo que a levou sair de sua cidade há oito anos foi a falta de oportunidade de trabalho. Três dias cansativos até São Paulo e três meses de muito sofrimento. Maria diz que pensou em voltar, sofreu preconceito da família. Desempregada, estava esperando uma oportunidade para trabalhar, só que ninguém acreditava que iria conseguir. Depois
“foi só alegria”, conseguiu um emprego, comprou um terreno e construiu seu “barraco de madeira”. A faxineira diz que ama São Paulo, nunca ficou desempregada por muito tempo e que sempre dava um jeitinho para conseguir seu dinheiro: “Cheguei a trabalhar até aos domingos fazendo faxina”.
No Brasil, o que impulsou as migrações internas foram os aspectos econômicos. A Região Nordeste destaca-se como um lugar privilegiado para análise de dinâmica migratória devido à intensidade com que os deslocamentos populacionais têm ocorrido nessa área.
Dados dos primeiros Censos Demográficos mostram que, ainda na segunda metade do século 19, o Nordeste era a região mais populosa do Brasil e sua população representava quase a metade dos habitantes do país. Especificamente, conforme o Censo de 1872, a população do Nordeste correspondia a 46,7% do total nacional de acordo com estudo. A partir de então, os registros mostram atuais 27,8% da população brasileira, ainda que as taxas de fecundidade da região se apresentam como as mais altas do país.
Arnaldo Alves, 70, chegou em São Paulo em 1968 por acaso. “Vim para ficar pelo menos uns dois anos e hoje estou aqui há 50 anos”, conta.
Tradições Mantidas
O Centro de Tradições Nordestinas – CTN é um dos maiores pontos de concentração da cultura nordestina na cidade de São Paulo, tendo como finalidade a difusão da cultura nordestina o que o torna um ponto de encontro dos migrantes nordestinos. Alves, um dos fundadores, diz que o CTN é o único lugar que sempre tem muita coisa típica do Nordeste. Relata que é de extrema importância lembrar-se da cultura de onde vieram, festas, comidas, etc.
Entre as semelhanças e diferenças do nordeste para capital paulistana, Maria revela que atualmente a vida que tem em São Paulo é 70% melhor. Em todos os sentidos. “No Nordeste, às vezes tem trabalho, mas você não ganha o que ganha em São Paulo. Pesqueira [sua cidade natal] não tem nenhuma semelhança com São Paulo. Pernambuco é um lugar sofrido, lugar de pobreza”. Para ela, é “lugar de vagabundo”, as pessoas só querem festas. “Têm dinheiro para festa, mas às vezes não têm dinheiro para comer. As pessoas preferem festejar do que trabalhar. São folgados. Não todos, mas a maioria”, critica.
Preconceito
Quando o assunto é preconceito, Alves diz que nunca sofreu preconceito. Já Maria sofreu preconceito por ter seus pés rachados: “Quando cheguei do Nordeste, tinha os pés rachados. Quem me falou também era de lá, sabe? Era do Piauí. Falava ‘aí, pé rachado’. Lá é muito quente e eu gosto de trabalhar de chinelo. ão gosto de usar sapato, só para sair, meus pés eram bem rachados, sangravam. Fiz um tratamento médico, era doença, problema no fígado”.
Pode-se dizer que os nordestinos assumiram e ainda assumem fundamental contribuição para a redistribuição espacial da população brasileira.

Gírias e expressões
O Nordeste não é rico apenas em gastronomia e cultura. Eles têm um vasto vocabulário próprio, confira no vídeo abaixo.
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